segunda-feira, 4 de outubro de 2010




(1984)

14 de janeiro
todo o santo dia bateram à porta. não abri, não me apetecia ver pessoas, ninguém.
escrevi muito, de tarde e pela noite dentro.
curiosamente, hoje, ouve-se o mar como se estivesse dentro de casa. o vento deve estar de feição. a ressonância das vagas contra os rochedos sobressalta-me. desconfio que se disser mar em voz alta, o mar entra pela janela.
sou um homem privilegiado, ouço o mar ao entardecer, que mais posso desejar? e no entanto, não estou alegre nem apaixonado, nem me parece que esteja feliz. escrevo com um único fim: salvar o dia.

Al Berto, O Medo

8 comentários:

Ana da Cunha disse...

perdi a conta às vezes que li as passagens do diário de Al Berto.

Ana da Cunha disse...

quanto à música, não consigo gostar nem um bocadinho. eu sei, sou feia.

Ana da Cunha disse...

e o "diário de Al Berto" soa a qualquer coisa como "o diário de anne frank". piadinha para o joão.

Paulo Brás disse...

esquece que "é" al berto: baila.

Paulo Brás disse...

dica: notar o masoquismo de ser EU a publicar isto aqui. *

Inês Ribeiro disse...

O teu masoquismo vai dar em tese, mesmo amigo! x)
Confesso que, por vezes, também não encaixo o vanguardismo electrónico-musical no que estou a ler mas há coisas muito boas no projecto Wordsong e gosto do final.*

Paulo Brás disse...

«corpo corpo corpo janela» devia ter sido ideia minha.

identificado disse...

Algum interesse, em fazer algo pela cultura musical lusófona?